“Um dos problemas da educação hoje é o vácuo de autoridade que se criou na família”, afirma a educadora Tania Zagury

Com 50 anos de carreira recém-completos, a educadora, que tem mais de 25 livros publicados aqui e no exterior, faz um balanço do setor e aponta algumas saídas sobre a escola no Brasil.

  • MALU ECHEVERRIA

No livro “Pensando Educação com os Pés no Chão”, a senhora afirma que um dos problemas da educação hoje é o vácuo de autoridade que se criou na família, especialmente por conta da ausência dos pais. De que modo isso afeta o desempenho escolar das crianças?

Eu repito isso desde o primeiro livro que escrevi para pais, nos anos 90. Naquela época, muitas famílias abriram mão dos limites porque achavam que poderiam causar traumas às crianças. Essa geração cresceu, teve filhos e hoje é sua vez de educar. Isso interfere no papel da escola: se já dá trabalho educar apenas uma criança, imagine 35, que é o número máximo de alunos em uma classe permitido por lei. Muitas crianças entram na escola antes de serem socializadas. Para piorar, não aprenderam a respeitar o direito do outro, o que dificulta a função dos professores. Sem contar que, atualmente, a escola tem outras demandas além da socialização e da transmissão de conhecimentos, como incentivar o empreendedorismo e a criatividade – objetivos mais difíceis de alcançar, portanto, nesse contexto.

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Por que a confiança dos pais na escola – e vice-versa – se perdeu? E, principalmente, como resgatá-la?

Por quase dois séculos, escola e família viveram em “lua de mel”. Tudo o que a primeira determinava, a segunda endossava. Acredito que isso acabou por diversos fatores, entre eles o fato de que os pais hoje têm mais conhecimento para questionar possíveis falhas na educação. Esse é o lado positivo. Mas a família precisa saber como reclamar para não prejudicar a credibilidade entre alunos e professores. Para além disso, precisa estar a par do modelo educacional no qual a instituição se baseia e acreditar nele. Não dá para escolher a escola apenas pela proximidade de casa, muito menos interferir em seu dia a dia. Você não vai ao dentista e ordena qual dente ele tem de arrancar, certo? Se o filho reclamar do volume da lição e, em vez de tentar entender o que está por trás disso, o pai vai até a escola para brigar e ameaçar tirá-lo de lá, tal desarmonia só irá piorar o desempenho da criança.

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Qual é o papel da tecnologia na escola do século XXI?

Inovação tecnológica e pedagógica são coisas diferentes, e a maioria das escolas brasileiras ainda é administrada de forma tradicional. Seja na rede pública, seja numa instituição da elite, não basta apenas munir os alunos de computadores e tablets. Isso não garante resultados superiores, como já provaram trabalhos sérios. O que ajuda, sim, é a motivação por meio da ludicidade. O grande diferencial, porém, está na maneira pela qual pensamos a questão pedagógica – o que deve ser realizado, como eu reforço no livro, com os pés no chão, enfatizando a formação e a qualificação dos professores. A tecnologia está mudando o comportamento das crianças, o modo pelo qual percebem o mundo, aprendem. Um bebê de hoje é muito diferente de um de apenas 20 anos atrás. E a escola tem de estar preparada para essa nova vivência.
 

Pensando educação com os pés no chão – Reflexões de meio século de sala de aula, Editora Bicicleta Amarela, R$ 24,90 (Foto: Divulgação)

Via: https://revistacrescer.globo.com/noticia/2018/04/um-dos-problemas-da-educacao-hoje-e-o-vacuo-de-autoridade-que-se-criou-na-familia-afirma-educadora-tania-zagury.html?fbclid=IwAR2KdPc5QFHwuk6D0XBrTcfS0KnUCTRC7q5kUSDqpOhp36QP3dYY1vSg7jw

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